Vida e morte para mim
É uma caixa de segredo
Um morre tarde demais
Outro morre muito cedo
Um é fraco, outro é forte
Um não tem medo da morte
Já outro morre de medo.
Aonde o homem ergue o dedo
É de Deus a permissão
Tarde e cedo eu me refiro
A idade do cristão
Eu penso porque será?
O tempo não promete e dá
Sorte a uns e a outros não.
Leitores prestem atenção
Nesta história verdadeira
Da mulher que viu três séculos
Era negra e brasileira
Para refrescar a memória
leia um pouco da história
De Dona Chica Brejeira
Francisca T. de Oliveirar
O seu nome verdadeiro
Esse "T" é de Tavares
Não é "T" de terceiro
E alcunha de brejeira
Nasceu de uma brincadeira,
Por fumar fumo brejeiro.
Neste solo brasileiro
No Rio Grande do Norte
Nasceu esta criatura
Sadia, robusta e forte
Foi na fazenda Salobro
Ali Deus lhe deu o dobro
De vida, destino e sorte.
Já nasceu com toda sorte
De ter uma longa vida
É isso mesmo a verdade
A história é conhecida
Em nome da Bíblia Sagrada
Francisca foi batizada
No dia que foi nascida.
Para existência da vida
Uma graça recebeu
E o nome de Francisca
Que a própria mãe lhe deu
Para não cair em abismo
O padre fez o batismo
Abençoou e benzeu.
Dona Francisca nasceu
No fim do século dezenove
A história é interessante
Quem conta até se comove
Um pedido eu quero fazer
Não deixem a história morrer
Leia, escreva e renove.
O Sindicato promove
Esta homenagem em cordel
A Dona Chica Brejeira
Mulher católica e fiel
A história é positiva
Queremos mantê-la viva
Este é o nosso papel.
Mas mexendo no painel
Da engrenagem da memória
Vamos falar em Francisca
Qual foi sua trajetória
Depois que ela nasceu
E quantos anos viveu
Pra alcançar a vitória.
Mulher de saudosa memória
Pra nós só recordação
Era filha de Maria
Maçonila da Conceição
E Antonio Fernandes Jales
Assim dizia seu Sales
Era de Chica o Paizão.
Não tenho informação
Se francisca tinha irmã
E também algum irmão
Que da mana fosse fã
Se é filha única eu não sei
Pouco li e apurei
Sobre essa cidadã.
Não vou deixar pra amanhã
Se hoje eu posso fazer
Se fiz o que não devia
Não vou me arrepender
Assim dizia Francisca
A pessoa que arrisca
Pode ganhar ou perder.
O tempo sabe fazer
O bastante é esperar
Francisca menina moça
Começo a namorar
No vigor da inocência
Mesmo sem experiência
Mas queria se casar.
O melhor era estudar
Mas escola não havia
Mas ajudava aos pais
Na luta do dia-a-dia
Plantar, roçar, e limpar matos
Varrer casa e lavar pratos
Era sempre o que fazia.
Mas Francisca um certo dia
Ainda adolescente
Olhou para o pai e disse
O senhor fique ciente
Vou casar seguir nos trilhos
Ser mãe e ter muitos filhos
E encher a casa de gente.
Antonio ficou consciente
Do que a filha queria
Chica faloupra Antônio
Antônio disse a Maria
A menina quer casar
Portanto vamos aceitar
Era assim que Antônio dizia.
Até que um belo dia
Chica encontrou um sujeito
Era o Pedro Tavares
Rapaz benquisto e direito
Começaram a namorar
Ai pediu pra casar
E o pedido foi aceito.
O casamento foi feito
Pedro com Chica Brejeiro
Ele um bom dono de casa
Ela uma boa caseira
Viviam sem empecílhos
O casal com oito filhos
Pedro deixa a companheira.
Com uma mulher chifeira
Pedro fugiu foi embora
Chica falou para os filhos
O que será de nós agora
Sou uma pobre sofrida
Pra cuidar da minha vida
Só Deus e Nossa Senhora.
O amor quando se tora
Não há nada que conserte
Na hora do matrimônio
As juras se comprometem
Quando arruína o casamento
Esquecem o juramento
A jura acaba e derrete.
Quem tanto jura e promete
Escorrega no batente
Quando erra não assume
Se passa por inocente
Disso eu sou bem lembrado
Diz-nos um velho ditado
Que a boca que jura mente.
Francisca ficou somente
Com filhas para criar
Mas como toda a vida teve
Coragem para trabalhar
Ai disse aos filhos seus
Tenho muita fé em Deus
Fome não vamos passar.
Chica vivia a pensar
Com o pensamento indeciso
Pensava em casar de novo
Depois pensou positivo
Já que Pedro foi embora
Só arranjo um homem agora
Que tenha melhor juízo.
De um esposo eu preciso
Para não viver sozinha
Já que o meu me deixou
E carregou a vizinha
Isso eu digo e lhe garanto
Era um homem quase santo
Porém vergonha não tinha.
E já que Francisca vinha
Pensando noites e dias
De encontrar um amor
Pra lhe dar mais alegrias
Encontrou e apaixonou-se
E com o mesmo casou-se
O senhor Antônio Carias.
Em diversas moradias
Chica Brejeira morou
No Salobro, em Lucrécia
Onde Francisca Passou
Nos sítios e nas cidades
Bons laços de amizades
Chica Brejeira deixou.
Francisca também morou
No Bom lugar e Caeira
Fazia muitos favores
Tinha a arte de parteira
Rezava nos inocentes
Também tratava doentes
Era quase uma enfermeira.
Assim era Chica Brejeira
Simpática, meiga e gentil
Por tudo que ela fez
Merecia nota mil
Não tinha nada de grego
Era uma pérola negra
Das negras deste Brasil.
Viveu no nosso Brasil
Esta nobre criatura
Nasceu no século dezenove
A história afirma e assegura
No século vinte viveu
No vinte e um faleceu
E baixou a sepultura.
Tanto tempo que a cultura
Por este cordel espera
Para saber na verdade
Chica Brejeira quem era
Era uma maravilha
Se mexessem com filho ou filha
Ela virava uma fera.
Chica Brejeira era
Daqui da Améria latina
Descendente de escravo
Brasileira e Nordestina
Do Rio Grande do Norte
Uma sertaneja forte
Da terra potiguarina.
A cultura nos ensina
Que aquilo que se ama
Não podemos esquecer
Nem deixar cair na lama
Ser bom é extraordinário
E viver mais de um centenário
Quando morre fica a fama.
O título da primeira Dama
Era pra ter recebido
A coroa de rainha
Também tinha merecido
Por ser tão boa e amiga
Uma deusa muito antiga
E por mais de um século vivido.
Eu não estou esquecido
De todas as datas me lembro
Sei que Francisca nasceu
Dia 15 de setembro
Com mais de século depois
Morreu em Dois mil e dois
A 31 de Dezembro.
Na história deste membro
Eu não quero causar danos
Mas sobre a idade dela
Ta havendo algum engano
Mesmo estando na velhice
Pelo que ela me disse
Só tinha 118 anos.
Vivemos fazendo planos
Para uma longevidade
Viver cem anos ou mais
É grande a felicidade
Como viveu Dona Chica
Deixou uma história rica
E se foi para a eternidade.
Deixou a sua cidade
Partiu para não voltar mais
Mas no papel já ficou
Suas impressões digitais
Quem morre, a vida se encerra
Debaixo do pó da terra
Estão os restos mortais.
Os fenômenos naturais
Da vida da criatura
São feitos pela genética
Sobre o poder da natura
O hormônio está entre
Começa dentro do ventre
E termina na sepultura.
Quem fizer esta leitura
E achar que tá incorreta
Por favor, não coloque culpa
Neste matuto poeta
Tive um pouco de noção
Faltou-me informação
Para a história completa.
Fim
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